Para evitar uma derrota precipitada e o esfacelamento completo do grupo político que hoje se autodenomina de centro, DEM, PP e PR cogitam um acordo com o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT).
A possibilidade de costura com um candidato ferozmente crítico à gestão de Michel Temer —da qual os três partidos fazem parte— tem sido discutida nos bastidores pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e seus aliados como alternativa à aproximação entre Temer e Geraldo Alckmin (PSDB). O movimento do presidente em direção ao tucano se intensificou nos últimos dias como uma espécie de abraço dos afogados.
O mapa de sobrevivência do bloco centrista ganhou corpo antes do previsto com a aparente inviabilidade de grande parte dos candidatos que congestionam o campo.
Sem ideologia bem definida, ao menos sete nomes se apresentam hoje como capazes de romper a polarização entre direita e esquerda —a maioria longe do primeiro pelotão nas pesquisas—, enquanto Ciro Gomes aparece com 9%, segundo o Datafolha.
O grupo ligado a Maia diz estar ciente de que Ciro tentará, primeiro, fechar acordo com PT e outros partidos da centro-esquerda, já que o ex-governador é um dos principais herdeiros de voto do ex-presidente Lula, caso o petista fique fora da disputa de outubro. A aposta, porém, é que, se o PT não abrir mão da cabeça de chapa, haverá uma avenida para que parte desse centro migre para a candidatura do cearense —e ganhe algo com isso.
Siglas médias, como PP e PR, comportam-se de forma pouco ideológica. Sem candidatos próprios à Presidência, querem eleger a maior bancada de deputados possível e ter acesso a fatias mais gordas do fundo partidário.
O PR, inclusive, filiou o empresário Josué Alencar, visto como opção para ser vice de Ciro Gomes. O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), por sua vez, sabe que a aliança com a esquerda beneficiaria sua reeleição a senador no nordeste.
Maia ainda mantém o discurso de que é candidato ao Planalto —ele tem apenas 1% nas pesquisas—, mas preserva na ponta da caneta o esboço de como enxerga a situação do aglomerado partidário.
A imagem que se forma é uma metáfora do caos reinante nesta pré-campanha: um emaranhado de acordos que antes pareciam improváveis mas que, se tudo der errado, pode, sim, incluir um trato entre DEM, PP e PR com Ciro Gomes.
O presidente da Câmara avalia ainda com o PRB, do pré-candidato ao Planalto Flávio Rocha, a possibilidade de namoro com Ciro, mas não fecha as portas de outro arranjo, com o mesmo PRB e o Podemos, de Álvaro Dias, mais bem posicionado nas pesquisas para a sucessão de Temer.
Em todos os cenários, a tentativa é de que o presidente e Alckmin fiquem de fora. Para Maia, o chamado centro precisa ser reeditado, mas não é capaz de abrigar Temer e o tucano.
Na avaliação do chefe da Câmara, o centro é onde os políticos não abrem mão de suas ideias, mas conseguem dialogar com os vários setores ideológicos. Ali estariam ele próprio, Henrique Meirelles (MDB), Aldo Rabelo (SD) e Paulo Rabello de Castro (PSC) —nenhum passa de 2% das intenções de voto.
Temer e Alckmin figurariam na centro-direita, somente uma casa antes da ocupada pelo ultraconservador Jair Bolsonaro (PSL)—que lidera as pesquisas nos cenários sem Lula, com 17%. Na centro-esquerda ficaria o PT, e Ciro Gomes se posicionaria, segundo Maia, entre o centro e esse núcleo dominado pelos petistas e, portanto, seria capaz de receber o apoio do bloco do deputado.
Nem Temer nem Alckmin têm bom desempenho nas pesquisas —o tucano chega a 8% e o presidente não passa de 2%— mas perceberam que, juntos, poderiam evitar o isolamento e a derrota eleitoral antecipada da coalizão governista.