Terminado o pleito eleitoral cuja eleição atípica, paradigmática mesmo, foi assentada muito mais em rejeição, medo e ódio do que em propostas concretas para o País, temos a vitória de Jair Bolsonaro e a derrota de Fernando Haddad. Há, todavia, um derrotado com elementos de vitória: Ciro Gomes. A política é repleta de oximoros como este: Ciro é um “derrotado vitorioso”.
Ciro foi, nesta disputa, o nome mais qualificado da esquerda. Não teria como superar a onda bolsonarista e nem a força do PT, especialmente no Nordeste. Mas seu terceiro lugar o qualifica, sem dúvida, a iniciar a segunda-feira como um nome de oposição ao governo Bolsonaro e, mais ainda, uma oposição diferenciada, distante do PT e do lulismo. Não nos esqueçamos que Lula, preso, articulou o isolamento de Ciro e seu partido, o PDT, nesta eleição.
Findado o primeiro turno, Haddad quis uma “frente democrática” contra Bolsonaro. Visou, em primeiro lugar, Ciro e seus votos, depois, Marina Silva e, por fim, Fernando Henrique Cardoso. Nenhum deles, contudo, ressentidos não com Haddad, mas com o PT e Lula, lhe estenderam a mão. Ciro, inclusive, declarou apoio crítico e viajou para o exterior. Voltou e não consignou o apoio que os petistas esperavam. Animal político que é, Ciro sabe que seu capital eleitoral e sua trajetória não poderiam ser ligadas ao candidato preposto de Lula. Quis – e quer – ser uma importante voz na oposição a Bolsonaro. E será, certamente.
Fonte: Estadão