Pensando no assédio sexual, recorrente nas festas populares, mulheres estão se movimentando e fazendo com que campanhas contra esse tipo de violência tenham ainda mais força no Carnaval de Salvador. A ação Não é Não ganhou visibilidade em todo país e já garantiu a distribuição de 15 mil tatuagens temporárias com a mensagem pelas ruas da capital baiana. Mas a campanha pode ainda ter mais 10 mil adesivos e, por isso, continua arrecadando fundos em um financiamento coletivo no site benfeitoria.com/naoenaoba até esta sexta-feira (15), às 23h59 (horário de Brasília).
Para divulgar a ação, o coletivo local Não é Não preparou um ensaio fotográfico com mulheres reais no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador. Tem gorda, magra, negra, branca, loira, morena, cacheada, lisa, lésbica, hétero, bi, trans e cis. Os cliques foram feitos pela fotógrafa Ítala Martina e contam com a participação das psicólogas Ariane Senna e Natália Monteiro; da modelo e empresária Bell Rocha; da estudante e militante Gabriela Marx; e da jornalista Naiana Ribeiro.
Além de lutar contra o assédio, promover a igualdade de gênero, empoderar e unir as mulheres, as fotos disseminam a campanha para que mais tatuagens possam ser distribuídas na capital nordestina com mais casos de violência contra mulher, segundo pesquisa recente da Universidade Federal do Ceará (UFC). Os dados chamam atenção para a importância de campanhas como essa não só em Salvador como em cidades de todos estados.
Na capital baiana, uma mulher é agredida a cada 56 minutos. Já no Brasil, uma em cada três mulheres relatam já ter sofrido algum tipo de violência ao longo da vida, segundo a ONU Mulheres. De acordo com dados da organização internacional de combate à pobreza ActionAid, 86% das brasileiras já sofreram assédio em público.
Os números só evidenciam situações cotidianas – que não têm hora e nem local para acontecer – e que atingem quase todas as mulheres. Com as fotografadas da campanha não foi diferente: em duas horas de ensaio fotográfico, foram mais de cinco casos de assédio.
Teve homem fazendo ‘piada’, fiu fiu, toque sem consentimento e até olhares obscenos. Vale lembrar que tudo depois do ‘não’ é assédio. Também é assédio se alguém fala ou faz atos obscenos para você; quando você fica sem reação ou não consegue dizer “não”; quando você não sabe o que está acontecendo; quando você não pode dizer “não” por questões financeiras ou por outras relações de poder; se você está inconsciente ou desacordada.
“Consequência de uma sociedade machista e patriarcal, as violências contra as mulheres afetam diretamente na qualidade de vida delas, quando não nos tira a vida”, ressalta a secretária de Políticas para as Mulheres do Estado da Bahia (SPM-BA), Julieta Palmeira.
Seguindo as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), a médica titular da pasta considera que o assédio sexual é uma questão de saúde pública e lembra que assédio é qualquer comportamento indesejado praticado com reiteração e que afeta a dignidade da pessoa ou criar um ambiente hostil. “Campanhas como essa sensibilizam a população, mas sentimos que as mulheres passam a ter também uma transformação individual. Quando as mulheres são protagonistas dos seus próprios corpos, isso lhes traz mais bem-estar”.
Unir as mulheres – com suas diferenças e individualidades – inclusive, criando uma rede de proteção no espaço público, é um dos objetivos da Não é Não. “Além de nos reconhecermos e mostrar que decidimos sobre os nossos corpos, ainda há reflexos nas questões de autoestima e de segurança na rua”, pontua a coordenadora local da campanha, Gabriela Guimarães, 26.
A produtora cultural acrescenta que muitas pessoas ainda não sabem diferenciar paquera de assédio. Por isso, é preciso parar de normalizar esse tipo de aproximação, essa invasão de espaço, que os homens fazem no Carnaval. “É possível você paquerar, flertar com a pessoa no Carnaval, sem constranger, sem invadir o espaço do outro; sem tornar aquele momento feliz em um momento de angústia. Eu topei ser embaixadora da campanha por todas as situações que eu passo e já passei, que minhas amigas passaram. A gente não tem mais que enfrentar isso”, afirma.
Fonte: Noticias Bahia