Após dizer a um repórter que lhe perguntou sobre os repasses do ex-assessor Fabrício Queiroz a primeira-dama Michelle Bolsonaro que gostaria de enchê-lo de porrada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recebeu a mesma pergunta milhares de vezes. “Presidente @jairbolsonaro, por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?”, diz o questionamento, repetido nas redes sociais desde a tarde desse domingo (23).
Segundo o pesquisador Fabio Malini, que pesquisa mídias sociais e política e analisa tendências no Twitter, Bolsonaro foi marcado em mais de 1.035.521 mensagens únicas sobre o assunto. “Cada rede, um desenho diferente. Nesta, juntei todos os RTs, quotes e replies. O resultado disso é a valorização dos perfis mais mencionados. Em geral, numa situação de crise, o alvo da indignação se destaca. Bolsonaro ficou sozinho. E cercado”, analisou o pesquisador.
A reação, que partiu de jornalistas, políticos, artistas, influenciadores e cidadãos em geral, repete a pergunta feita por um repórter do jornal O Globo, na tarde de ontem, durante visita do presidente à Catedral de Brasília. Em meio à aglomeração que provocou, mais uma durante a pandemia, Bolsonaro reagiu a pergunta com agressão. “Minha vontade é encher tua boca com uma porrada, tá?!”, rebateu, chamando o jornalista de “seu safado”.
De acordo com o UOL, no momento, os demais repórteres presentes questionaram se a atitude era uma ameaça, mas aí Bolsonaro já não respondeu. Ele seguiu para o Palácio da Alvorada e os jornalistas foram proibidos pelos militares de ocupar o espaço reservado à imprensa na entrada da residência oficial.
Mas com a repercussão do fato, veio a resposta nas redes sociais: milhares de menções contra ele. O jornal O Globo repudiou a atitude do presidente. “Tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à população”. Em posição conjunta, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Artigo 19, Conectas Direitos Humanos, Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB e Repórteres sem Fronteiras demonstraram solidariedade ao repórter e condenaram “mais um episódio violento protagonizado por Jair Bolsonaro”. “As entidades destacam que a atitude dele “foi não apenas incompatível com sua posição no mais alto cargo da República, mas até mesmo com as regras de convivência em uma sociedade democrática. Um presidente ameaçar ou agredir fisicamente um jornalista é próprio de ditaduras, não de democracias”, frisaram em nota. Até a manhã desta segunda-feira (24), Bolsonaro não respondeu.
CHEQUES PARA MICHELLE
Quando o suposto esquema de rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) veio à tona, o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou depósitos em cheque feitos pelo ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Os repasses revelados naquele momento somavam R$ 24 mil.
Na época, Bolsonaro justificou as transferências, dizendo que havia emprestado dinheiro a Queiroz, que só estaria quitando os repasses. “Não foi por uma, foi por duas vezes que o Queiroz teve dívida comigo e me pagou com cheques. E não veio para a minha conta esse cheque, porque simplesmente eu deixei no Rio de Janeiro. Não estaria na minha conta. E não foram R$ 24 mil, foi R$ 40 mil”, alegou Bolsonaro.
No entanto, uma reportagem da revista Crusoé, publicada no início do mês, aponta que os repasses somam R$ 72 mil. Segundo a reportagem, foram 21 depósitos, que começaram a ser feitos em 2011: três cheques no valor de R$ 3 mil em 2011; seis de R$ 3 mil em 2012; e mais três de R$ 3 mil em 2013. Então, em 2016, há nove depósitos que somam R$ 36 mil. Além disso, a esposa do ex-assessor, Márcia Aguiar, repassou mais R$ 17 mil para Michelle, de janeiro a junho de 2011. O montante foi distribuído em cinco cheques de R$ 3 mil e um de R$ 2 mil. Com isso, no total, o casal depositou R$ 89 mil na conta da primeira-dama.
Esses dados fazem parte da investigação que apura a rachadinha, esquema de devolução de salários, no gabinete do então deputado estadual e filho do presidente, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Queiroz era assessor de Flávio e é apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) como operador do esquema.
Procurada pelo Jornal Nacional, a defesa do casal disse que só vai se manifestar nos autos. Atualmente, os dois cumprem prisão domiciliar no âmbito desse processo. Já o Palácio do Planalto não se pronunciou.
Fonte: Bahia Notícias