Após a briga entre os ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Paulo Guedes (Economia), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse neste final de semana que pretende repreender Marinho em uma tentativa de encerrar de vez a disputa entre os dois. A expectativa é de que a conversa do presidente com o ministro ocorra no início desta semana, quando Bolsonaro deve promover uma reunião ministerial e, segundo assessores palacianos, “discutir a relação”.
Segundo aliados do presidente, Bolsonaro se irritou com as críticas feitas por Marinho ao ministro da Economia, Paulo Guedes, em uma conversa com investidores. Para Bolsonaro, as afirmações não eram apropriadas àquele ambiente e tumultuaram ainda mais o debate em torno de uma solução para a ampliação do Bolsa Família.
Na avaliação do presidente, a briga entre os dois subordinados chegou ao limite quando saiu das conversas privadas e passou a ser demonstrada publicamente.
No Palácio do Planalto, apesar de haver resistência a Guedes na cúpula militar, a postura de Marinho foi classificada no final de semana como um gesto descabido e de traição do ministro à equipe de governo.
Apesar da insatisfação com o episódio, Bolsonaro deixou claro em almoço no sábado (3), promovido no Palácio da Alvorada, que não pretende trocar nenhum dos dois auxiliares. Porém, de acordo com aliados do presidente, ele ressaltou que a disputa entre os dois precisa ser superada.
Guedes e Marinho já vinham trocando farpas nos bastidores por discordarem em relação à estratégia de retomada da economia após a pandemia do novo coronavírus. O ministro do Desenvolvimento defende uma ampliação dos gastos públicos com obras, enquanto chefe da Economia quer focar na retomada da atividade por meio de investimentos privados.
Na última semana, a disputa veio a público. Em encontro com analistas e investidores na sexta-feira (2), Marinho disse que Guedes é fraco em temas de microeconomia e ressaltou que o novo programa social do governo vai sair “da melhor maneira ou da pior”.
Perguntado sobre as declarações, o ministro da Economia chamou o colega de despreparado, desleal e fura-teto, em referência a uma suposta tentativa de desrespeitar a regra do teto de gastos, que limita as despesas do governo à variação da inflação.
A briga pública foi mal recebida por Bolsonaro. O presidente já havia enquadrado a equipe de Guedes há pouco mais de duas semanas.
Na ocasião, o presidente se irritou com uma entrevista concedida pelo secretário de Fazenda de Guedes, Waldery Rodrigues, sobre uma proposta para congelar aposentadorias e direcionar os recursos economizados para a ampliação do Bolsa Família.
Após esse episódio, Bolsonaro ameaçou demitir quem apresentasse essa ideia e determinou que Guedes e sua equipe mantivessem discrição sobre qualquer proposta em formulação no governo. A ordem foi obedecida e um pacto de silêncio foi respeitado no ministério nos quinze dias que sucederam a confusão.
O pacto foi quebrado após Marinho fazer as críticas sobre o ministro, o que levou Guedes a disparar ataques contra o colega em entrevista à imprensa.
A expectativa é de que na reunião ministerial, prevista inicialmente para terça-feira (6), o presidente faça um discurso apaziguador e deixe claro que trocas públicas de críticas entre integrantes de sua equipe não serão mais admitidas.
O presidente convidou o ministro da Economia para o almoço de sábado na tentativa de acalmá-lo. Guedes tem afirmado que tem crédito com Bolsonaro porque ambos são “transparentes” e acabam se excedendo em público em momentos de estresse.
Em uma conversa privada, segundo relatos feitos à reportagem, Bolsonaro disse que está satisfeito com o trabalho do ministro da Economia.
Na área econômica, técnicos apostam nas declarações públicas de Bolsonaro em apoio a Guedes para justificar sua força no governo. Nas recorrentes crises entre o ministro e a ala política, o presidente tem se pronunciado em defesa do ministro da Economia, afirmando ter compromisso com o teto de gastos.
Em conversas com auxiliares, o chefe da Economia afirmou que se formaram duas vertentes no governo: a ala política, que inclui Marinho, que busca manter a popularidade do presidente em alta a qualquer custo, e a equipe econômica, que tenta ajustar as contas e, na avaliação da pasta, tem aval do presidente.
Membros da ala política do governo e parlamentares próximos a Bolsonaro avaliaram no fim de semana que Guedes sairia enfraquecido da disputa. A percepção foi que faltou equilíbrio ao ministro, que acabou colocando mais lenha na fogueira.
A briga mais recente entre os dois envolve a ampliação do programa Bolsa Família. O plano de Guedes prevê corte de programas e de gastos públicos para bancar a nova assistência. Marinho, no entanto, teria defendido que a nova ação use recursos não contabilizados no teto de gastos.
Fonte: Bahia Notícias