Rondas contínuas nas zonas rurais, ‘blitzes’ estratégicas em rodovias e ampliação do número de policiais em território. Essas são algumas das mudanças que, quem vive na região oeste da Bahia, notará a partir de outubro. É que, com o início do mês, começa também a Operação Safra, que combate ataques de grupos armados em fazendas da região. De acordo com a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), nessa área, roubos de grãos, produtos e equipamentos chegam a dar prejuízos de até R$ 2 milhões aos produtores agrícolas.
Ao menos, é o que afirma Odacil Ranzi, produtor e presidente da Aiba. “Eles atacavam, normalmente, no domingo a noite com até 20 homens armados, sabendo que havia uma quantidade alta de produtos armazenados. Nesse momento, prendiam todos e levavam os produtos. Eram violentos, amarravam as pessoas e também ameaçavam. O prejuízo era de R$ 500 mil, R$ 1 milhão e chegava até a R$ 2 milhões, eram mega-roubos”, conta ele, destacando que as ações de assalto ‘praticamente desapareceram’ com a ação.
A Operação Safra existe desde 2014, sendo resultado de uma iniciativa público e privada que reúne produtores, associações e a gestão estadual. O ano de início da operação se deu após uma onda de roubos nos anos de 2011, 2012 e 2013, na época de safra na região, que fica entre outubro e março, quando há o plantio e a colheita de grãos como soja, algodão, milho e feijão no oeste. O período é mais adequado para a atividade por conta da incidência de chuva durante esses meses, diferente do que ocorre em outras partes do estado.
A operação, porém, não eliminou as ações por completo. Carminha Missio, produtora de grãos e fibras na cidade de Barreiras, conta que sofreu com um ataque em sua propriedade no início da pandemia, em 2020. “Roubaram herbicidas, fungicidas e ainda levaram uma caminhonete, que era alugada. Nunca mais encontramos os produtos e nem o carro. Não vou saber precisar o tamanho do prejuízo porque faz alguns anos, mas foi bem alto. Fora o prejuízo pessoal para os colaboradores. Alguns precisaram de assistência psicológica para conseguir voltar a trabalhar no local”, relata ela.
Paulo Schmidt é produtor de grãos e tem uma propriedade em Luis Eduardo Magalhães. Ele também foi vítima de um roubo e, na ocasião, estava com a família no local. “Fiquei com minha mãe, esposa, filhos e sogra com uma arma na cabeça a noite inteira, enquanto eles roubavam a fazenda. Foi extremamente doloroso, traumático para todos. Quando você está em uma fazenda a 20, 30 ou 50 quilômetros da cidade, não tem polícia e os bandidos fazem a festa”, relata ele, que prefere não informar quanto teve de prejuízo no caso.
Por isso, a Operação Safra promove rondas, que são realizadas nas zonas rurais de Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, São Desidério, Baianópolis, Cocos, Correntina, Formosa do Rio Preto, Jaborandi, Riachão das Neves, Santa Maria da Vitória e Rita de Cássia. Ao todo, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), 1.040 policiais militares são coordenados pelo Comando de Policiamento da Região Oeste (CPR-O). Esse efetivo ganha ainda oito viaturas específicas para visitas às fazendas, rondas na região e montagem de barreiras para abordagem a veículos.
A Polícia Militar da Bahia (PM-BA) foi procurada para detalhar a ação, mas não respondeu sobre a operação e recomendou a procura da SSP-BA. No entanto, Luiz Stahlke, que é gerente da Aiba e coordenador da Operação Safra, explicou como os policiais atuam. “Nessa época de safra, nos próximos seis meses, ampliamos a ronda nas áreas rurais, principalmente, de quinta a domingo. São oito viaturas dispostas a esse trabalho, além do efetivo que realiza o policiamento normalmente”, diz.
Stahlke destaca que a atuação da polícia na operação é preventiva e que não há, por exemplo, a escolta de cargas de grãos que saem dessa propriedade. “A presença dessas viaturas, que ninguém sabe ao certo qual é o roteiro, inibe essas ações que poderiam acontecer. Ou seja, evita que bandidos ataquem as fazendas. Até porque os caminhões são rastreados e a gente nunca registrou ocorrência”, conta ele.
Informações da Aiba indicam que escolta para caminhões só são feitas por iniciativa dos fazendeiros, que contratam serviço particular. A Aiba acredita ainda que os roubos eram feitos por criminosos da região, já que os bandidos tinham informações privilegiadas sobre o dia e o horário que a ação seria facilitada, seja pelo menor número de colaboradores nas propriedades ou ausência de viaturas na região, como acontecia antes.
Alta produção
O fato da região oeste do estado ser alvo da ação de criminosos em roubos como os que foram citados acima não é à toa. A produção de grãos na região é uma das maiores do país. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), inclusive, estima uma safra de 13 milhões de toneladas de grãos para a Bahia em 2023.
Se a previsão estiver correta, esse será o terceiro ano seguido em que o estado bate recorde de produção no setor. Em 2021, a colheita chegou a 10,5 milhões e, em 2023, pulou para 12 milhões.
A quebra de recorde se dá, principalmente, pelo aumento do plantio de grãos como a soja e o feijão e do algodão em pluma em território baiano, onde os principais pontos de cultivo estão na região oeste.
O algodão, por exemplo, tem um aumento de área plantada de 1,6% e o crescimento previsto em sua produtividade (9,3%) eleva as expectativas de sua produção para 1.444 milhões de toneladas, apresentando elevação importante de 11%, em comparação com o ciclo anterior.
“O oeste é uma das maiores produções de grãos do Brasil, visto que temos um clima maravilhoso onde chove de outubro até abril e as terras são muito planas, o que permite uma agricultura muito moderna com máquinas de primeiro escalão mundial. Isso, com o tempo, foi chamando a atenção dos bandidos que cometeram aqueles assaltos”, lembra Odacil Ranzi, que faz questão de ressaltar que a proteção da produção é também um ato que evita perdas na economia local e estadual.
Quem também tem expectativa de crescimento de produção na casa dos dois dígitos é o feijão. A cultura, segundo a Conab, terá uma colheita elevada em 10% em comparação ao ciclo anterior, chegando às 312 mil de toneladas.