Depois de 11 dias e mais de 240 mortes, o atual conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas está próximo do fim. Os dois lados indicaram que apoiam um cessar-fogo a partir desta sexta (21) e agora estão negociando os últimos detalhes do acordo, informa a imprensa internacional.
A cúpula do governo israelense está reunida na tarde desta quinta-feira (20) para debater o assunto e a expectativa é que o anúncio oficial da decisão aconteça após o fim do encontro. O Hamas, por sua vez, já avisou seu aliado libanês Hizbollah que aceitou a trégua.
De acordo com a emissora de TV estatal israelense, a principal desavença ainda em negociação é sobre como exatamente acontecerá o cessar-fogo. O Hamas e outra facção radical, a Jihad Islâmica, querem que os dois lados interrompam os ataques de maneira simultânea em um horário combinado, enquanto Israel exige ter o direito de decidir exatamente quando vai cessar suas ações.
Esse é o maior conflito na região em oito anos. Até este momento, os bombardeios israelenses deixaram ao menos 232 pessoas mortas, incluindo 65 crianças e 39 mulheres em Gaza, segundo as autoridades médicas locais. Os ataques deixaram mais de 1.900 feridos, destruíram estradas, prédios inteiros e outras estruturas da Faixa de Gaza, o que agravou a escassez de alimentos, água potável e remédios, aumentou o risco de disseminação de Covid-19 e outras doenças e forçou mais de 52 mil palestinos a deixarem suas casas.
Do lado israelense, as autoridades contabilizaram 12 mortos, incluindo duas crianças, e 336 feridos. O país possui um avançado sistema de defesa contra mísseis e foguetes inimigos que, segundo os números oficiais, interceptou quase 90% dos cerca de 4.000 projéteis disparados de Gaza e minimizou os danos do conflito.
Apesar das conversas —que estão sendo mediadas pelo Egito e pela ONU—, os ataques dos dois lados continuaram nesta quinta, com Israel mantendo o bombardeio a alvos do Hamas na Faixa de Gaza, enquanto o grupo segue disparando foguetes contra cidades israelenses.
Os ataques com foguetes foram interrompidos por cerca de oito horas, mas, na madrugada, Israel deu início a uma nova sequência de ataques aéreos em Gaza, visando o que os militares disseram ser uma unidade de armazenamento de armas na casa de um oficial do Hamas e estruturas militares nas casas de outros comandantes do grupo islâmico.
Do lado israelense, os moradores começaram seus dias de trabalho sem o som habitual das sirenes de alertas, mas ela voltaram a soar no sul do país, embora nenhum dano ou vítima tenha sido relatado pelas autoridades.
Os avanços das negociações de paz aconteceram depois que o presidente americano, Joe Biden, aumentou a pressão sobre o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, pelo fim do conflito.
Pressionado internamente por seu próprio partido, que o acusava de falta de firmeza com Israel, Biden ligou nesta quarta (19) para o primeiro-ministro e pediu a diminuição imediata da violência —os EUA são os principais aliados internacional de Israel e tradicionalmente apoiam o parceiro em suas ações militares contra palestinos.
Netanyahu, por sua vez, disse que apreciava o apoio de Biden ao direito de defesa de Israel, mas indicou que continuaria com a operação contra o Hamas. Nesta quinta, o ministro da Inteligência israelense, Eli Cohen, sinalizou em entrevista a uma rádio local que o governo não iria apoiar uma trégua e que pretendia terminar a operação em Gaza.
Yair Lapid, cotado para ser o próximo premiê de Israel após o fracasso de Netanyahu em articular maioria no Parlamento, disse que o governo israelense deve atender aos apelos dos EUA devido à coordenação necessária com Washington em outros aspectos no futuro.
“Israel não pode ignorar tal pedido. Enfrentamos desafios muito maiores do que Gaza —o Irã, o acordo nuclear, as tensões na Síria e o fortalecimento do Hizbollah. Tudo isso exigirá estreita coordenação com os americanos”, disse o político, de acordo com o site israelense Ynet News.
Uma pesquisa divulgada pela imprensa local afirma que 72% dos israelenses dizem apoiar a continuidade do conflito, enquanto 24% defendem um cessar-fogo. O levantamento ouviu 684 pessoas e tem margem de erro de 4,3%.
Moussa Abu Marzouk, membro do braço político do Hamas, disse na quarta acreditar que os esforços para chegar ao fim do conflito serão bem-sucedidos e que esperava um acordo até o fim da semana.
A Assembleia Geral das Nações Unidas deve se reunir nesta quinta-feira para discutir o conflito israelense-palestino, mas as expectativas por ações concretas são baixas. Isso porque, apesar da declaração de Biden, os EUA vêm se opondo a resoluções no Conselho de Segurança que pedem o fim da violência por considerarem que elas são inoportunas e ineficazes para acalmar a crise. Segundo a Casa Branca, a estratégia americana é baseada em discussões nos bastidores.
Nesta quinta, o Conselho de Direitos Humanos da ONU anunciou que fará uma sessão especial na próxima quinta (27) para abordar a situação nos territórios palestinos e em Jerusalém. Os governos do Egito e da Alemanha, além da Casa Branca e da Autoridade Palestina —que é rival do Hamas— elogiaram os avanços das negociações e afirmaram que os sinais são encorajadores.
Embora possa encerrar a fase de hostilidades entre Israel e Gaza, é improvável que qualquer cessar-fogo aborde as questões fundamentais dos conflitos entre israelenses e palestinos —o que inclui, entre outros pontos, a criação de um Estado palestino, a presença de colônos judeus na Cisjordânia e a divisão de Jerusalém.
Civis de ambos os lados estão exaustos de medo e tristeza. “As pessoas em Gaza e em Israel precisam urgentemente de um descanso das hostilidades ininterruptas”, disse Fabrizio Carboni, diretor regional para o Oriente Médio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Segundo diretores regionais da Organização Mundial da Saúde, a gravidade das lesões dos feridos palestinos está sobrecarregando um sistema de saúde que lidava com cenários de precariedade. Além disso, o fechamento dos pontos de passagem de Gaza para pacientes e equipes de saúde e as restrições à entrada de suprimentos médicos estão piorando a crise.?
A entidade fez um apelo de emergência para levantar US$ 7 milhões (R$ 37,05 milhões) para financiar a entrega de suprimentos nos hospitais palestinos pelos próximos seis meses. A ONG Médicos Sem Fronteiras também fez relatos semelhantes, alertando inclusive para a falta de bolsas de sangue para transfusões.
Um comboio da ONU com ajuda humanitária, incluindo 10 mil doses de vacinas contra o coronavírus, estava pronto para entrar em Gaza assim que recebesse permissão, disse Rik Peeperkorn, diretor da OMS para Cisjordânia e Gaza. “Até que haja um cessar-fogo acordado, todas as partes no conflito devem concordar com uma pausa humanitária para garantir o acesso”.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gabi Ashkenazi, no entanto, o Hamas quem estaria deliberadamente impedindo a entrada de ajuda de Israel no território palestino.
??O Hamas —que controla Gaza— começou a disparar foguetes contra Israel no último dia 10 em retaliação ao que chamou de abusos dos direitos israelenses contra palestinos em Jerusalém durante o mês do ramadã, sagrado para os muçulmanos.
Os ataques com foguetes seguiram-se a uma série de confrontos entre as forças de seguranças israelense e grupos palestinos na mesquita de Al-Aqsa e a uma decisão judicial em primeira instância que pode expulsar famílias palestinas de um bairro de Jerusalém Oriental alvo de disputas desde que foi anexado por Israel em 1967.
Em resposta, as Forças Armadas israelenses passaram a bombardear Gaza.
A sequência de violência entre Hamas e Israel é a mais grave desde 2014. O último grande confronto durou 51 dias e devastou a Faixa de Gaza, provocando as mortes de pelo menos 2.251 palestinos, a maioria civis, e de 74 israelenses, quase todos soldados.
O conflito atual também serviu de combustível para acirrar as hostilidades internas em cidades israelenses que antes eram vistas como símbolos da convivência entre árabes e judeus. Houve centenas de prisões e autoridades locais decretaram estados de emergência e toques de recolher. Além disso, houve sinais de revolta contra Israel na população árabe nos vizinhos Líbano e Jordânia, o que aumentou os temores de que o conflito desestabilizasse todo o Oriente Médio —o que não aconteceu.
Fonte: Bahia Notícias